6 de mai. de 2010

Tragicômico

O Amargurado andava pela rua, remoendo seus problemas quando avistou, sentado no meio-fio e com a pior cara do mundo, aquele que viria a conhecer como o Comediante.
Ele não entendeu. Não achava possível que uma pessoa cuja profissão era alegrar os outros pudesse sofrer de falta de alegria.
Ao perguntar o que aconteceu, o comediante deu um sorriso amarelo e disse : Minha esposa me traiu com meu melhor amigo, levou tudo de mim, minha família não me apoia, meus filhos me odeiam e eu ainda estou gripado.
"Como você, com todos seus problemas, consegue subir no palco depois de tudo isso e fazer uma porção de desconhecidos rir de histórias que você mesmo inventa, e que provavelmente devem ter alguma relação com sua situação? Você não pensa na sua mulher ao fazer uma piada sobre relacionamentos? Não pensa em seu melhor amigo, ao fazer uma piada sobre pessoas próximas? Não pensa em seus filhos ao fazer uma piada sobre família?" disse o Amargurado.
"Não, claro que não!" e o Comediante deu um sorriso verdadeiro "Eu nunca lembro dessas coisas quando subo lá para animar as pessoas. Não tem sentido."
Ao ver que o Amargurado estava confuso, explicou "Veja, ao fazer minhas piadas, eu deixo os outros felizes. Essa energia deles me alimenta, me dá uma razão para viver. De que adiante se preocupar com vários problemas se não tem nada que eu possa fazer? Sim, eu estou triste, mas eu não sou triste. Posso cair várias vezes, mas sempre vou me reerguer e nunca serei aleijado por problemas terrenos."
Para finalizar a conversa, ele simplesmente sorriu e falou :
-A vida é uma peça. Interprete bem seu papel e será lembrado eternamente por ele. Eu estou interpretando meu papel, eu sou O Comediante. Se eu não estivesse sempre feliz ao entrar em cena, aí sim eu não seria ninguem.

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